terça-feira, 15 de outubro de 2013

Masoquismo

Voltando ao tema abordado por NRF recentemente, sobre a sustentabilidade da dívida portuguesa, não podia estar mais de acordo de que não tem existido uma verdadeira análise sobre o problema com que nos deparamos e as implicações que o aumento galopante da dívida actual do país poderá ter para o nosso futuro. Desde que teve inicio a ajuda externa em Portugal, no ano de 2011 a dívida pública aumentou consideravelmente, situando-se actualmente em cerca de 130% (2011: 108,3%; 2012: 123,6%). A taxa de desemprego também aumentou para níveis assustadores, sendo actualmente de cerca de 17% (2011: 12,7%; 2012: 15,7%). Antes de regressar ao caso português chamo a atenção para o caso grego, do qual conhecemos recentemente alguns dados para 2014:

·         contração da economia de cerca de 25% desde 2008
·         aumento da dívida pública em % do PIB de 105% em 2008 para 175% actualmente
·         aumento da taxa de desemprego de 8% em 2008 para 28%
·         taxa de desemprego jovem (entre os 15 e os 24 anos) de 65%

Após estes dados assustadores, estima-se que em 2014 o orçamento grego apresente pela primeira vez um superávit excluindo os pagamentos da dívida. Assim, consideram os analistas que a única possibilidade para a economia grega passam por novo perdão de dívida, caso contrário todo o esforço até aqui efectuado terá sido em vão. Ou seja, olhando para o caso grego, em que foram aplicadas várias medidas de austeridade em muito semelhantes às ocorridas em Portugal, constata-se que essas apenas serão viáveis após nova renegociação da divida. A frase que cito em baixo é elucidativa:

"Greece's exit from the crisis is being made much more politically difficult and socially painful than is needed,". "The spread and depth of austerity that lenders have insisted on has been much too severe. There has been success, but success at what price? If this is success, who wants to be rescued like this?"

Prof Kevin Featherstone, director of the London School of Economics Hellenic Observatory

Relativamente ao caso português, e apesar das recentes críticas de Cavaco Silva na Suécia aos masoquistas portugueses, foi referido por Paulo Trigo Pereira e Pedro Lains recentemente ao Público, que a dívida portuguesa na situação actual não é sustentável. Segundo o Jornal Económico os detentores da dívida pública portuguesa são:

18% UE/FMI
42% gestores de activos, fundos soberanos e bancos centrais
12% bancos comercais portugueses
4% Bancos comerciais alemães
4% Bancos comerciais franceses
13% BCE

Ou seja, partindo do pressuposto que os masoquistas tem razão admita-se uma renegociação da dívida portuguesa. A grande questão se for necessária a renegociação da dívida portuguesa é a forma como se apurará quem assume as perdas. Se essa via for seguida a pressão dos detentores de dívida externos será bastante intensa, existindo uma forte possibilidade de que venham a ser exigidas perdas avultadas aos detentores de dívida nacionais, não nos podendo esquecer de que dentro dos 42% enunciados atrás está incluindo o Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social (FEFSS) do qual cerca de 55% está já aplicado em dívida pública tendo o governo aprovado recentemente a possibilidade de este fundo poder fazer reforços da dívida pública até 90%. Claro que é elementar que se o FEFSS tiver que assumir perdas tal terá um impacto bastante negativo nas contas portuguesas, dado que na situação actual o fundo da Segurança Social já não é suficiente para fazer face aos compromissos futuros. Ficamos assim a aguardar quem terá razão, se os masoquistas ou os crentes. 

1 comentário:

  1. A utilização do fundo foi uma exigência bem aceite pelo Vítor Gaspar como uma forma de armadilhar e impossibilitar um possível haircut que um eventual novo governo quisesse negociar.

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