quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Tabu

“Unemployment can be blamed on a deficiency in aggregate demand (the total demand for goods and services in the economy, from consumers, from firms, by government, and by exporters); in some sense, the entire shortfall in aggregate demand – and hence in the U.S. economy – today can be blamed on the extremes of inequality. As we’ve seen, the top 1% of the population earns some 20% of U.S. national income. If that top 1 percent saves some 20 % of its income, a shift of just 5 % points to the poor or middle who do not save – so the top 1% would still get 15% of the nation’s income – would increase aggregate demand directly by 1 % point. But as the money recirculates, output would actually increase by some 1 ½ to 2 percentage points. In an economic downturn such as the current one, that would imply a decrease in the unemployment in early 2012 standing at 8.3%, this kind of a shift in income could have brought the unemployment rate down close to 6.3 percent. A broader redistribution, say, from the top 20% to the rest, would have brought down the unemployment further, to a more normal 5 or 6 percent.”

The price of inequality, Joseph E. Stiglitz, 2012

Portugal, vive actualmente uma situação preocupante ao nível de taxa de desemprego, sendo a taxa actualmente de 17%, representado o desemprego de longa duração (mais de 25 meses) já mais de 60% do total de desempregados. As taxas de IRS em Portugal estão neste momentos bastante altas, sendo que a mais elevada está actualmente em 54% (48% + 3.5% de sobretaxa IRS para todos os escalões + 2.5% de taxa adicional para o último escalão).
Analisando o pequeno excerto referido acima, é nos dito (apesar de a análise ser referente aos Estados Unidos da América, em baixo cito estudo feito sobre a desigualdade no rendimento  em Portugal) que retirando 5% do rendimento dos 20% maiores rendimentos e aumentado em 5% o rendimento dos 20% mais baixos, tal medida iria aumentar a procura entre cerca de 1 ½ % e 2%, juntando ainda o facto de 20% do rendimento dos 20% maoires rendimentos não ser gasto, enquanto que nos 20% mais pobres não existe poupança. Assim, apesar de estarmos a falar de uma medida que iria criar polémica e crítica, estamos a falar de uma medida que poderia ter um impacto significativo no aumento do crescimento económico e na diminuição do desemprego.
Na publicação “Distribuição do Rendimento, Desigualdade e Pobreza, de Carlos Farinha Rodrigues (2007)” é referido que “ao longo dos anos 90 Portugal conheceu um crescimento económico assinalável que se repercutiu no aumento do bem-estar social da população”, contudo "esse crescimento não beneficiou de igual forma todos os segmentos da distribuição, isto é, nem todos os indivíduos beneficiaram de igual forma da melhoria do bem-estar proporcionado pelo crescimento real do rendimento". “O padrão altera-se a partir de 1995. Na verdade, até à primeira metade da década a assimetria social aumentou generalizadamente, mas com particular ênfase entre os detentores de maior rendimento e as famílias mais desfavorecidas. Por seu turno, entre 1995 e 2000 assiste-se a uma atenuação das desigualdades, sobretudo nos níveis de rendimento inferiores à média. Em contrapartida, a distância entre estes e os mais favorecidos continuou a intensificar-se. Isto é, a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres não só não diminuiu como manteve o seu crescimento, embora a um ritmo menos acelerado. O que efectivamente se alterou foi a condição socioeconómica dos estratos mais baixos (melhorou sensivelmente).”
O estudo demonstra que as políticas sociais levadas a cabo na segunda metade dos anos 90 tiveram um impacto positivo na inversão de certas tendências que vinham desde o início da década. Contudo, este não alterou substancialmente os níveis de prevalência de pobreza, já que a percentagem de pessoas a viver com rendimentos inferiores à linha de pobreza (60% do rendimento mediano, por adulto equivalente) não sofre alterações significativas - permanecendo na casa dos 19% (segundo as estimativas do autor para o ano de 2000, um milhão novecentos e cinquenta e mil portugueses).
Este tipo de análise poderá ser controversa, pois sempre que se fala na hipótese de aumento de impostos sobre os rendimentos mais altos, aparecem logo nos media notícias de que estamos em risco de perder rendimento, pois deixamos de ser atractivos para a tributação de rendimento comparativamente com outros países europeus. Contudo, creio que se deveria ter em conta que necessitamos de ideias que possam melhorar o nível de desemprego e aumentar o crescimento económico e as opções que temos são diminutas. Apesar de achar que a sociedade portuguesa não é suficientemente madura relativamente a políticas de redistribuição, e sempre que se fala em aumentar impostos apenas para os rendimentos mais elevados se ouvir um bruá nos media, creio que se fosse feito um estudo que comprovasse, que com um aumento de imposto de 5% para os rendimentos mais altos da população e correspondente diminuição desse imposto para os 20% mais baixos, esta medida teria uma repercusão ao nível de crescimento económico e diminuição da taxa de desemprego tal seria provavelmente encarado de outra forma. Se esses 5% do rendimento mais alto forem comprovadamente poupados por quem os aufere e puderem ser usados para injectar dinheiro na economia, não era uma medida pertinente? Não era louvável para quem tem empresas (grande parte dos 20% de rendimentos mais altos devem inclusive ser empresários) poder ver a actividade das empresas aumentar? Tudo isto está interligado, pois com um aumento de rendimentos injectados na economia, o desemprego diminui, são pagos mais impostos, as empresas vendem mais......
No clima actual em que se fala inclusive de corte nas pensões de sobrevivência superiores a 600 euros,  acho que todas as possibilidades que possam ajudar a economia e o desemprego a melhorar deveriam ser analisadas. Sem tabus!

2 comentários:

  1. esta malta ja anda a acompanhar o blog!

    http://www.abola.pt/mundos/ver.aspx?id=433261

    ResponderEliminar
  2. LOL. Começou a revolução....ehehehe

    ResponderEliminar